Turma tem 49 estudantes vindos de 15 estados brasileiros, além de dois haitianos e uma venezuelana. Camponeses, quilombolas, migrantes, moradores de comunidades tradicionais vão protagonizar um dia histórico para a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Depois de cinco anos de estudos, chegou o dia da formatura de 49 estudantes de Direito pelo Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera).
A turma
“Nilce de Souza Magalhães” é composta por graduandos de 15 estados, de todas as
regiões do Brasil, além de dois haitianos e uma venezuelana.
A
diversidade entre o grupo de formandos destoa dos cursos regulares:
cinco são quilombolas, 48,8% se reconhecem como negros e 76,19% viveram a
maior parte da vida no meio rural. Entre os futuros advogados e advogadas estão
militantes dos Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dos
Atingidos por Barragens (MAB), e dos Pequenos Agricultores (MPA),
da
Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas - CONAQ, da Pastoral da
Juventude Rural (PJR) e da Comunidade de Fundo de Pasto.
O
paraninfo da turma é o advogado e professor Manoel Caetano, que atuou na defesa
de Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto o ex-presidente esteve preso em
Curitiba. A UFPR é a instituição em que o ex-juíz de primeira instância Sergio
Moro deu aulas até 2016.
O reitor
da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, acompanha o projeto da turma desde o debate
sobre sua implantação, quando ainda era diretor do curso de Direito. Na
avaliação do reitor, a formatura é “um momento de orgulho”, que indica de
“maneira muito eloquente, como a universidade é um lugar de todos e de todas”.
“A universidade pública, as federais em particular, deixaram de ser um lugar de
elite. A universidade tem sido cada vez mais um espelho da diversidade
brasileira. Ainda não é como pode ser, mas muito caminho já foi trilhado",
aponta.
“A
formatura desta turma é uma grande vitória do povo trabalhador, do povo
brasileiro. É um orgulho para o MST concluir essa turma depois de
cinco anos e depois de muito enfrentamento”, comemora Ney Strozake,
advogado e militante no Setor de Direitos Humanos do MST.
Os
estudantes da turma foram selecionados em 2014, por meio do Sistema de Seleção
Unificada (SiSU), que usa a nota do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), para
vagas suplementares no curso de Direito. Para acessar o Pronera, os candidatos
precisaram comprovar serem beneficiários da Reforma Agrária, ou, no caso de
quilombolas, apresentar documento expedido pela Fundação Cultural Palmares.
Batizada
de “Nilce de Souza Magalhães”, a turma homenageia a defensora de direitos
humanos assassinada em Jirau, Porto Velho (RO), em 2016. “Nicinha”, como era
conhecida, integrava o MAB e denunciava as violações de direitos cometidas pelo
consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) na construção da Usina
Hidrelétrica de Jirau.
O diploma
ainda nem chegou e 19 estudantes da turma já passaram no exame da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), a prova que dá aos graduados em Direito a condição
de advogar. Sete estudantes também foram aprovados em cursos de pós graduação
da Universidade de Brasília (UnB), PUC-PR e UFPR.
Missão dos advogados e advogadas populares
Esta é a
quarta turma de Direito do Pronera a se formar, e outras duas estão em
andamento na Universidade Federal de Goiás, na Cidade de Goiás, e na
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em Marabá.
Além dos
compromissos éticos aprendido ao longo do curso e firmados no momento da
colação de grau, os futuros advogados vão carregar as causas das suas origens
no dia a dia profissional: “Nossa tarefa é utilizar esse instrumento que é o
Direito a serviço do povo, da classe trabalhadora, para o que for preciso e no
espaço em que a gente estiver, seja na advocacia popular, na academia, no
judiciário. O importante é nunca esquecer de onde a gente veio”, reforça
Jaqueline Pereira de Andrade.
O
Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera) foi criado em 1998
pelo governo federal, e até o primeiro semestre de 2019 havia formado cerca de
5,9 mil pessoas, entre graduação e pós-graduação, conforme dados do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Cerca de 50 instituições
públicas de ensino superior já realizaram cursos de educação superior por meio
do Programa, em diversas áreas de ensino.
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